sábado, 10 de setembro de 2011

A NATUREZA

A natureza para min não é matéria-prima
Minhas células são raízes
Logo, estou enraizado ao mundo
O que a humanidade faz ao mundo é a min que esta fazendo
Diuturnamente sinto as dores do mundo,
Pois, as dores do mundo são minhas também.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Todo condomínio tem um pouco de Carandiru

Condomínios,
Cárceres privados
na guerra em
que vivemos.
Os muros altos,
são as trincheiras,
fortalezas imponentes.
Os seguranças
O exército
O estranho
A ameaça
Oásis plantado
na urbanidade.
Ilhas de excelência
edificadas pelo medo.
Na entrada é necessária
a senha.
Ao visitante, a identificação,
para entrar, a concessão.
Tranquila e isolada
do contexto mais amplo,
cresce a prole dos privilegiados.
As noites são serenas,
porém, paira no ar
a sombra da ameaça humana.
Temem os desprezados,
os párias esfomeados,
os desumanizados
pela privação absoluta.
Temem aqueles que
foram colocados
à margem pela sociedade.
Como nas instituições
carcerárias, seus internos
vivem sob o império do terror.
Os donos do sistema
geram a miséria,
encarceram suas vítimas
nas cadeias.
Em contrapartida,
criam em torno de si
presídios familiares.
É por isso que, a meu ver,
todo condomínio tem
um pouco de Carandiru.

Gramáticas

            Ah! Essa tal gramática interna – carregada de idiossincrasia, subjetividade, anárquica e libertária.
            E essa tal gramática externa – global, geral, totalizante, institucional, coercitiva, uniformizadora, estatal, homogeneizadora... impositora!
            São estas variações sincrônica e diacrônica, que concebem a mutação linguística, em um mesmo tempo e ao longo do tempo.
            Por que então aprisionar a linguagem a padrões rígidos, que a fazem estática e sombria?
            Não raro vejo a comunidade linguística indignada com os neologismos revitalizadores da língua, pelo que vejo e sinto a querem imexível, mergulhada em nostalgias palacianas.
            Eu e meu idioleto anarquista, que quer subverter a “ordem” – aspiro todavia ao caos, para que uma nova era se estabeleça, dando acesso ao universo das palavras a todos indiscriminadamente.
            Vamos flexibilizar as normas, humanizar as regras, regurgitar a opressão em nome da liberdade de expressão, para que nos libertemos do automatismo condicionante.
            Fora August Comte! Fora Rene Descartes! Uma nova era há de se instalar – o tradicionalismo e o fragmentarismo hão de ser superados em nome de uma visão holística, que consegue conciliar o aparentemente inconciliável, rompendo assim os limites bem definidos.
            Que o léxico se torne independente e grite: Independência ou morte!
            Sem a liberdade, bem sabemos, a expressão será sacrificada; lançada ao Hades da indiferença e do preconceito!
            O que é certo e errado no universo extenso da língua portuguesa? Devemos encarcerá-la ao maniqueísmo ocidental reducionista?
            Famigerados somos nós, que já usufruímos o néctar extraído na esfera das palavras, que dá sentido mais amplo à realidade e se descortina no palácio da vida de maneira exuberante.
            Todavia, palavras não são apenas palavras, são unidades de força, importantes para dar sentido à vida e o vigor necessário e indispensável ao bem viver.
            Falantes de todo o mundo, uni-vos! Manifestem a sua indignação aos limites impostos coercitivamente pelas instituições linguísticas que estão a serviço de uma classe dominante que visa ao controle das consciências humanas.
            Liberdade já, para que possamos repensar o pensamento já pensado a respeito da língua e suas instituições mantenedoras.

Ciranda do mundo

E o mundo foi girando
e a semente transformou-se
em árvore
e a criança transformou-se
em homem
e o alicerce transformou-se
em arranha-céus.

E o mundo foi girando
e a filosofia tornou-se vã.
E a ciência transformou-se em
Tecnologia.
E a tecnologia destruiu o
mundo.

E o mundo foi girando
e das cinzas ressurgiram
os micro-organismos.
E os micro-organismos habitaram
as águas,
E nas águas tornaram-se
Seres complexos.

E o mundo foi girando
E na sétima era geológica
ressurgiu o homem
e a natureza cirurgicamente
o abortou...

A carteira, o caderno e o mar

            O mar estava diante de mim e sobre a carteira.
            O céu extremamente azul, o oceano extremamente azul, as ondas quebrando na praia, as conchas depositadas na areia.
            As correntes de ar oriundas do oceano, úmidas e suaves, calculo!
            As correntes de ar oriundas do continente, quentes e secas, certamente!
            Em meu caderno – em sua capa mais precisamente – esta paisagem concreta e abstrata, sugerindo algo mais do que imagens, sugerindo ideias, sentimentos, sensações, ideais e um desejo sincero de rumar para o litoral.
            As águas salgadas, o clima temperado – o destempero causado pela rotina, pelo dia a dia exaustivo da urbe – nestas paragens, com suas paisagens, são um alento e um tempero necessário à alma.

A batuta solar

O sol em sua travessia
pelo hemisfério ocidental
como um maestro, orquestrou
o desabrochar das flores, da
vida e da esperança.
À medida que se despedia
do Ocidente, prestes a cruzar
a linha do horizonte, bradou:
- O Oriente que me aguarde!!!

A alma

E eis que a noite
chegou, calma, serena
como a brisa primaveril.
E nos encontrou com
os olhos fincados aos
problemas telúricos.
Com os instrumentos
da magia e da beleza,
cortou os elos que nos
mantinham cativos.
Libertando a nossa
cabeça dos pesadelos
existenciais.
E ela liberta,
livre, leve e solta,
ergueu-se, e diante
de si, a abóbada celeste
salpicada de estrelas,
como a nos dizer:
sede bem-vindos à vida,
sede bem-vindos ao infinito,
às infinitas possibilidades
que se encerram
em vossa alma.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Cosmogonia

Se no princípio era o caos e a ordem
universal não passava
de uma quimera
Se somos oriundos
dos quadrúmanos ou não
se os zoófitos
são nossos irmãos
em parte ou não
O que interessa
é que em um determinado
momento,
e em um determinado lugar
um humanoide
tomou consciência de si mesmo
e divulgou esta informação.
Que atravessou o tempo
e o espaço
e chegou aos nossos dias
em plena era da informática.

Depois do Advento da Leitura

Antes da leitura, meu mundo era o quintal de minha casa.
Depois do advento da leitura, meu mundo se ampliou. Virou município, virou estado, virou país, virou continente, virou planeta, virou sistema solar, virou galáxia. Transmutou-se em Universo - uma realidade ilimitada.
Meu planeta tornou-se azul, transformou-se em página a ser lida. O Universo converteu-se em livro com histórias imorredouras.
Depois do advento da leitura eu descobri que o Universo é composto de uma partícula infinitesimal chamada "átomo", que por sua vez é composto de prótons e nêutrons no núcleo e de elétrons na eletrosfera.
Com o advento da leitura descobri a literatura, a poesia, os romances. Mundos criados por seus autores, onde resolvi habitar. E tantos mundos visitei, tantas histórias aprendi, tantas histórias compartilhei, tantas pessoas contagiei para que trilhassem o Universo infinito da imaginação humana.
Com o advento da leitura descobri que infinita é a capacidade humana, que infinitas são suas possibilidades. Que as realizações humanas ao longo do tempo são extraordinárias, como é extraordinário o gênero humano.
Com o advento da leitura vou tecendo ao longo do tempo com a linha das palavras o manto da sabedoria que um dia há de cobrir minha alma.

Contraste

Uns pintam os cabelos de preto
porque estão brancos
Outros pintam os cabelos de branco
porque estão pretos.
Uns encaracolam os cabelos
porque estão lisos
Outros alisam os cabelos
porque estão encaracolados.
Uns querem chegar em primeiro lugar
a qualquer custo
Outros não se importam
em ser o último.
Outros são os últimos
e sonham ser os primeiros
custando o que custar.
Já, eu, estou satisfeito como estou
porque não sou o corpo.
Não me importo em ser
o primeiro e nem o último.
Nesse mundo transitório
Onde até a uva passa
Quem dera eu, este réles mortal
Avesso às ilusões humanas.

A Chuva

A chuva lá fora
realiza o seu espetáculo
Fertiza o chão
e o solo da vida
vira palco.

Poente

E o sol como um brinco
redondo cor ouro
despencou da orelha
do céu e caiu por
detrás da linha
do horizonte.

Essas Pessoas

Há pessoas que me lembram de uma época
Há lugares que me lembram de pessoas
Há um tempo vivo em nós que não se apaga
E a memória desse tempo é a nossa história.

Yolanda

Tolo é aquele que lhe quer levar a sério.
Justamente você "que não leva a nada a sério".
E não levar a sério é a sua maior virtude.

Característica daqueles que estão acima das estruturas,
que não se assombram
com as palavras que brincam com as palavras
Que fazem da vida uma eterna brincadeira.

Que brinca com a seriedade austera do outro,
que não entende o seu jogo de palavras,
soltas e amarradas
a liberdade de dizer
o que se pensa tão somente